sábado, 18 de junho de 2016

17 vantagens (e desvantagens!) de ser músico

Quando um estudante de Música informa que seguirá na carreira profissional, quase sempre há uma comoção entre os familiares, preocupados se a escolha lhe dará independência financeira. Mesmo o show business tendo muitos artistas famosos e milionários, já tive vários alunos que foram retirados do curso por estarem indo "bem demais", com receio que "tomassem gosto" e se dedicassem menos às prioridades estabelecidas por seus pais. 

Mas, afinal, por mais prazeroso que seja tocar um instrumento, vale a pena TRABALHAR com Música? Independente do preconceito e controvérsia que envolvem a questão, será um ramo onde o mundo é colorido e repleto somente de prazeres ou algumas preocupações são justificadas? Veja os prós e os contras, começando pelas desvantagens:

1) Remuneração incerta e muito variável: apesar de existirem diversos ramos de atividade na área, a quase totalidade delas são prestações de serviço, ou seja, ganha-se por trabalho executado, variando o ganho mensal de acordo com a demanda do mercado. Até as celebridades (que, não raras vezes, chegam nesse patamar por sorte/acaso, ao cair no gosto popular e "emplacar" um ou mais sucessos, independente de sua qualidade artística) estão sempre sujeitas à aceitação por parte do público: nas vendas de CD's, contratação para shows e direitos autorais de sua obra em regravações. Nas escolas de música, conservatórios e faculdades privadas paga-se uma porcentagem da mensalidade do aluno ou por matéria/mês dada. Apenas professores em universidades públicas conseguem uma posição mais estável, cuja remuneração independe da quantidade de alunos. Existem algumas situações em que o empregador paga um salário fixo ao músico para segurá-lo na função, mas é uma situação cada vez mais rara nos dias de hoje, até para evitar a criação de algum vínculo empregatício que possa gerar a sujeição às leis trabalhistas;

2) Período longo de estudo/preparação: começar a estudar precocemente é determinante quando se pretende trabalhar na área. Além dos níveis básicos durarem vários anos, os cursos técnicos e superiores em Música (ao contrário dos outros) não aceitam alunos iniciantes e requerem um conhecimento prévio para admissão (avaliado em provas específicas de seleção). Mesmo os autodidatas necessitam de muito treinamento antes de terem condições mínimas de performance (veja, também, neste blog: Existe uma idade certa para começar a estudar piano?);

3) Não ter independência financeira no início dos estudos: ao iniciar a prática musical bem cedo (vide item anterior), a criança e o adolescente (o qual já começa a definir seu rumo profissional) estão sujeitos às decisões de seus pais/mantenedores para comprar o equipamento, pagar as aulas e/ou, muitas vezes, serem levados até o local. Sem o apoio destes, fica muito difícil para o jovem iniciar sua trajetória sozinho;

4) Arte e Cultura são pouco valorizadas em países sub-desenvolvidos: por receberem pouco incentivo do governo, as atividades artísticas são relegadas a mero supérfluo de luco, até mesmo por boa parte da classe alta, sendo um dos primeiros setores a sofrer em períodos de crise/recessão econômica. Esse quadro acaba refletindo diretamente na quantidade, qualidade e remuneração dos serviços prestados pela classe musical, que só costuma ser reconhecida/respeitada quando consegue atingir a fama midiática, independente de sua qualidade/relevância;

5) Precisar diversificar a atividade na área: quase sempre, mesmo um profissional da Música precisa ter vários trabalhos para aumentar o seu rendimento e sofrer menos com as oscilações do mercado (vide item anterior), que variam de caso a caso. Quando você atua em áreas diferentes ou exerce a mesma função em outros lugares, é menos afetado por crises de um determinado setor ou de um contratante específico;

6) Tarefas agregadas que raramente são remuneradas: muitas funções que fazem parte do trabalho e ocupam bastante tempo não costumam ser pagas, como tirar músicas, escrever partituras, ensaiar, passar o som, preparar uma aula e dedicar-se a meios de divulgação;

7) Trabalhar em horários não convencionais: quase todos os eventos acontecem durante a noite/madrugada, nos fins de semana, feriados e datas comemorativas. Assim, os músicos acabam trabalhando em dias/horários não convencionais (fora do horário comercial), para não atrapalhar os períodos mais comuns de trabalho dos convidados/clientes. Da mesma forma, os horários mais procurados para fazer aula de Música são durante a semana à noite e aos sábados, que correspondem aos períodos livres da maioria das pessoas;

8) Muitas vezes precisar abdicar da vida social: por atuar em horários "alternativos" (vide item anterior), o músico está trabalhando nos períodos comumente reservados para a diversão das outras pessoas, comprometendo sua disponibilidade de convívio social com parceiros, familiares e amigos;

9) Lidar com ciúme de parceiros que não entendem/aceitam a profissão: relacionar-se com alguém que não trabalha na área requer um tremendo esforço de ambas as partes, para lidar com os poucos horários livres em comum e os assédios resultantes da super-exposição e do fascínio característico das profissões artísticas;

10) Investir em equipamento caro: tocar/estudar num instrumento mais barato e de menor qualidade interfere diretamente no desempenho de seu treinamento e no resultado/qualidade de seu trabalho (veja, também: Piano acústico, digital ou teclado?);

11) Ter um carro para transportar instrumentos caros e pesados: além da grande maioria dos eventos terminarem de madrugada (quando não há mais transporte coletivo), também é bastante complicado, arriscado e muitas vezes impossível de se transportar um instrumento grande, pesado e frágil sem ser num carro;

12) Suportar grande desgaste físico e emocional: tocar em festas/eventos é bem desgastaste para o músico. Como se não bastasse as horas seguidas em pé, sem poder beber água ou ir ao banheiro, ele ainda precisa, por meio de sua performance, contagiar aquela pessoa indiferente, sentada/parada em frente ao palco, a participar da festa. Além do desgaste físico de pernas, braços, costas, cordas vocais (que podem ser atenuados com aquecimento, treinamento e conhecimento técnico/fisiológico dos músculos envolvidos) e do ouvido (dependendo do tipo de sonorização do grupo), há o desgaste cerebral/emocional, que é primordialmente utilizado quando se toca. Se o músico também exerce outra função (vide item 5) em horário comercial, ainda corre o risco de, frequentemente, só ter poucas horas de sono entre um trabalho e outro;

13) Em algumas ocasiões ter que trabalhar sem condições físicas ou emocionais ideais: por exercer (dependendo do caso) uma função de extrema responsabilidade dentro de um grupo, o músico não pode, em cima da hora, decidir faltar em um evento, pois quase nunca é possível encontrar/ensaiar um substituto à altura, que não comprometa a qualidade do trabalho e acabe prejudicando todo o grupo, além de pegar muito mal com o contratante, que vai pensar duas vezes antes de contratá-lo novamente. A palavra do músico (confiabilidade) é sua principal reputação: muitas vezes prefere-se contratar um menos impressionante mas que faça seu papel e honre seu compromisso do que outro virtuose que não cumpra compromissos assumidos. E é aí que está a chave da questão: um músico "mediano" que esteja bem ensaiado, pode render igual ou até melhor que um outro excepcional que não se dedica como poderia, tirando as músicas de qualquer jeito e faltando em ensaios e apresentações. Assim, é muito comum ser obrigado a recusar serviços melhores (mais rentáveis e/ou importantes) por outro firmado anteriormente;

14) Lidar com a arrogância de colegas de trabalho: sendo uma aérea que lida com fama e glamour, não é incomum trabalhar com pessoas que valorizam em demasia a sua importância, seja pelo seu cargo e/ou renome conquistado. Apesar da maior incidência com cantores e maestros, ninguém da área está imune aos "caprichos" do ego: músicos, professores, dançarinos, produtores, cerimonialistas, assessores, técnicos e até roadies (carregadores/montadores) quando trabalham para alguém famoso;

15) Ser avaliado pela fama e não pela qualidade profissional: frequentemente o músico é valorizado de acordo com sua própria fama, da música que está tocando ou da pessoa que está acompanhando. A maioria do público ainda tem a ilusão romantizada de que todo talento é reconhecido pelo mercado, ignorando/desconhecendo a influência predominante da indústria cultural e medindo a qualidade artística pela sua repercussão na mídia. Essa falta de conhecimento acaba, também, relativizando a percepção de uma performance, levando as pessoas a avaliarem um músico de acordo com seu gosto pessoal;

16) Ser responsabilizado pelo insucesso de alunos que não estudam: sina comum à toda classe professoral, é potencializada no ensino musical pela característica pessoal/individual das aulas de instrumento. Por se tratar, primordialmente, de um treinamento prático, o professor de música pouco pode fazer pelo aluno que não estuda e não segue suas orientações. Só que, nem sempre, o aluno e/ou seus responsáveis tem essa compreensão do processo, responsabilizando exclusivamente o professor pelo cumprimento de expectativas muito altas e irreais que eles mesmos criaram;

17) Levar má reputação: é um ramo que ainda sofre muito preconceito e pré-julgamento (eternizados na cultura popular pela fábula 'A Cigarra e a Formiga', desde o século V a.C.), sendo associado a práticas de boemia e "vida fácil" por suas características festivas e noturnas. Assim, é muito comum, infelizmente, ver pessoas (direta ou indiretamente) se referindo ao músico como alguém que não trabalha, que tem a vida desregrada (envolvido com farra/vadiagem) e sem preocupações com o futuro, que é alcoólatra, viciado em drogas, infiel, prostituto, irresponsável e delinquente. A vida exposta dos artistas (esmiuçada pela mídia para satisfazer a curiosidade dos fãs) e a falta de preparo emocional de muitos deles para lidar com a fama e o enriquecimento rápido, acaba alimentando ainda mais essa avaliação popular.

Ufa! Agora vamos às vantagens:

1) Diversos ramos possíveis dentro da área: o mercado musical oferece muitas aéreas diferentes de atuação. E mesmo dentro de cada área, há diversas ramificações e especializações;

2) Trabalhar naquilo que gosta, que tem como vocação: uma pessoa que tem aptidão ou fascínio pela vida artística sente-se privilegiada e gratificada quando consegue fazer de sua arte sua profissão;

3) Exercer uma profissão prazerosa que lida com a felicidade das pessoas: além da comprovação científica de estimular a atividade cerebral, causando prazer em quem a pratica, a Música se faz presente principalmente em shows, festas, cerimônias e comemorações, momentos onde os ouvintes estão com a sensibilidade aflorada (alegres e receptivos);

4) Liberdade para selecionar serviços e determinar o seu horário: como toda atividade autônoma, o músico tem maior liberdade de selecionar seus trabalhos, negociar seu preço e o período do dia que se dedicará à função;

5) Trabalhar em lugares variados: mesmo quando fica por muito tempo tocando um mesmo repertório, o músico raramente se entedia no trabalho, pois atua em lugares diversos, para públicos diferentes, tendo a possibilidade de conhecer localidades distantes, caras ou de acesso restrito que, normalmente, não teria condições de frequentar;

6) Encantar as pessoas com seu trabalho: pela característica sensorial, a Música é uma das poucas atividades que pode ser apreciada por praticamente qualquer pessoa, mesmo a completamente leiga, causando fascinação pela maneira imaterial e invisível que sensibiliza os ouvintes;

7) Conseguir alguns trabalhos que não necessitem de graduação: apesar de requerer muito estudo e especializações tanto quanto as profissões de formação mais demorada e exigente, muitos ramos da área musical podem ser exercidos por amadores, autodidatas e/ou estudantes ainda em processo de formação;

8) Ter a possibilidade de desfrutar um sucesso repentino e aumentar o rendimento rapidamente: mesmo dependendo de uma boa dose de sorte, é possível estar envolvido num trabalho que consiga fazer muito sucesso de uma hora pra outra, aumentando exponencialmente seu ganho e repercussão profissional (até sem ter estudado muito);

9) Receber feedback instantâneo: como a performance musical é feita em tempo real, o músico recebe a resposta do seu trabalho no mesmo instante, tendo uma ideia de sua aceitação pela reação do público. Em algumas situações, dependendo da extensão e variedade do seu repertório, pode até adaptá-lo de acordo com o perfil de ouvinte que encontrar e da resposta que estiver obtendo durante a apresentação;

10) Entreter, conectar-se e trocar energia com pessoas que apreciam seu trabalho: mesmo em bares, festas e eventos, onde o público não está indo propriamente assistir a apresentação musical, um repertório bem colocado e/ou uma boa execução/performance contagiará os ouvintes a participarem e interagirem, pois, com poucas exceções, já estarão pré-dispostos pelo ambiente festivo (vide item 3 desta lista de vantagens). Num show ou apresentação específica, conseguir essa interação é ainda mais natural, já que os ouvintes foram até lá especificamente para assisti-lo (o músico cover tem uma experiência bem próxima quando toca uma música que esteja fazendo muito sucesso ou quando sua performance sensibiliza o fã do artista que está sendo reproduzido);

11) Gostar de trabalhar com Música;

12) Gostar de trabalhar com Música;

13) Gostar de trabalhar com Música;

14) Gostar de trabalhar com Música;

15) Gostar de trabalhar com Música;

16) Gostar de trabalhar com Música;

17) Gostar de trabalhar com Música

Os últimos sete itens são uma alusão ao amor que move a grande maioria de seus profissionais, tornando suportável as desvantagens e equilibrando a balança de satisfação/realização. 

Conheci dois ex-músicos que abandonaram a profissão para melhorar seu nível econômico trabalhando em outra área. Ambos conseguiram esse objetivo. O primeiro disse estar arrependido pois, agora que ganhar dinheiro não era mais um problema para ele, percebeu que era mais feliz quando era músico e com renda menor. Já o segundo disse estar convicto de ter feito a escolha certa, pois sabia que dificilmente conseguiria comprar a residência no bairro de classe média-alta onde morava e o carro de luxo que possuía se tivesse seguido na carreira musical. Qual opinião é a mais sensata? As duas, já que as avaliações refletem o que é mais importante para cada um deles! O que faz uma pessoa feliz pode não fazer uma outra. Mas e VOCÊ? Com qual prioridade se identifica mais? Pense nisso antes de tomar sua decisão!

                          

2 comentários:

  1. Existem muitas vantagens e desvantagens de se tocar teclado estou aprendendo bastante com o seu blog os artigos estão bem completos muito obrigado por me ajudar a entender melhor desse fantástico instrumento.

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    1. Obrigado, Marcelo! Mande sugestões para próximos artigos. Abraço!

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