terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Devo estudar Piano Erudito ou Popular?

Quando iniciei meus estudos de piano em 1980, aos oito anos de idade, sequer existia o curso de piano popular nos conservatórios e escolas de música: era preciso fazer aula particular com algum pianista do ramo. Qualquer música fora do repertório erudito (veja, também, neste blog: O que é Música Clássica/Erudita?) era também escrita e arranjada (notas e ritmo do acompanhamento estabelecidos) para quem se interessasse em tocar outro tipo de música no piano.

Porém, além de dificilmente ser confiável (devido a versões simplificadas e erros em geral), esse tipo de material (ainda utilizado por professores não especializados em piano popular) pode, até, satisfazer a vontade do aluno, mas não lhe fornece as informações necessárias para tocar em grupo (banda), acompanhar alguém, tirar uma música de ouvido, improvisar e criar seus próprios arranjos (situações corriqueiras para quem, realmente, toca piano popular).

Hoje em dia, já é possível encontrar um vasto material especialmente voltado para piano popular, não sendo mais obrigatório estudar primeiro erudito (como antigamente) para aprender a tocar.

Mesmo assim, ainda há a crença que é "melhor" estudar piano erudito, mesmo quando se quer tocar popular, pois "quem toca erudito, consegue tocar popular, mas o inverso não". Apesar do piano erudito ser muito mais exigente nos detalhes e no preparo técnico, e alguns pianistas populares estudarem peças eruditas (especialmente Bach e Czerny) para aprimorar a sua técnica, essa afirmação não condiz com a verdade: cada um desses estilos necessitam de um treinamento específico (que não são ensinados no outro) para serem corretamente executados.

Portanto, um pianista formado em erudito não saberá fazer vários procedimentos específicos de piano popular, mesmo com uma técnica mais desenvolvida.

Aconselho a escolha do curso de piano erudito apenas às pessoas que tem interesse em conhecer o estilo mais profundamente ou às que já tem uma vivência com esse tipo de música (sabem do que se trata e gostam de ouví-lo) e desejam tocá-lo. Crianças podem ser introduzidas pelo professor, mas dificilmente prosseguirão no curso se também não forem incentivadas a apreciá-lo em casa.


sábado, 18 de junho de 2016

17 vantagens (e desvantagens!) de ser músico

Quando um estudante de Música informa que seguirá na carreira profissional, quase sempre há uma comoção entre os familiares, preocupados se a escolha lhe dará independência financeira. Mesmo o show business tendo muitos artistas famosos e milionários, já tive vários alunos que foram retirados do curso por estarem indo "bem demais", com receio que "tomassem gosto" e se dedicassem menos às prioridades estabelecidas por seus pais. 

Mas, afinal, por mais prazeroso que seja tocar um instrumento, vale a pena TRABALHAR com Música? Independente do preconceito e controvérsia que envolvem a questão, será um ramo onde o mundo é colorido e repleto somente de prazeres ou algumas preocupações são justificadas? Veja os prós e os contras, começando pelas desvantagens:

1) Remuneração incerta e muito variável: apesar de existirem diversos ramos de atividade na área, a quase totalidade delas são prestações de serviço, ou seja, ganha-se por trabalho executado, variando o ganho mensal de acordo com a demanda do mercado. Até as celebridades (que, não raras vezes, chegam nesse patamar por sorte/acaso, ao cair no gosto popular e "emplacar" um ou mais sucessos, independente de sua qualidade artística) estão sempre sujeitas à aceitação por parte do público: nas vendas de CD's, contratação para shows e direitos autorais de sua obra em regravações. Nas escolas de música, conservatórios e faculdades privadas paga-se uma porcentagem da mensalidade do aluno ou por matéria/mês dada. Apenas professores em universidades públicas conseguem uma posição mais estável, cuja remuneração independe da quantidade de alunos. Existem algumas situações em que o empregador paga um salário fixo ao músico para segurá-lo na função, mas é uma situação cada vez mais rara nos dias de hoje, até para evitar a criação de algum vínculo empregatício que possa gerar a sujeição às leis trabalhistas;

2) Período longo de estudo/preparação: começar a estudar precocemente é determinante quando se pretende trabalhar na área. Além dos níveis básicos durarem vários anos, os cursos técnicos e superiores em Música (ao contrário dos outros) não aceitam alunos iniciantes e requerem um conhecimento prévio para admissão (avaliado em provas específicas de seleção). Mesmo os autodidatas necessitam de muito treinamento antes de terem condições mínimas de performance (veja, também, neste blog: Existe uma idade certa para começar a estudar piano?);

3) Não ter independência financeira no início dos estudos: ao iniciar a prática musical bem cedo (vide item anterior), a criança e o adolescente (o qual já começa a definir seu rumo profissional) estão sujeitos às decisões de seus pais/mantenedores para comprar o equipamento, pagar as aulas e/ou, muitas vezes, serem levados até o local. Sem o apoio destes, fica muito difícil para o jovem iniciar sua trajetória sozinho;

4) Arte e Cultura são pouco valorizadas em países sub-desenvolvidos: por receberem pouco incentivo do governo, as atividades artísticas são relegadas a mero supérfluo de luco, até mesmo por boa parte da classe alta, sendo um dos primeiros setores a sofrer em períodos de crise/recessão econômica. Esse quadro acaba refletindo diretamente na quantidade, qualidade e remuneração dos serviços prestados pela classe musical, que só costuma ser reconhecida/respeitada quando consegue atingir a fama midiática, independente de sua qualidade/relevância;

5) Precisar diversificar a atividade na área: quase sempre, mesmo um profissional da Música precisa ter vários trabalhos para aumentar o seu rendimento e sofrer menos com as oscilações do mercado (vide item anterior), que variam de caso a caso. Quando você atua em áreas diferentes ou exerce a mesma função em outros lugares, é menos afetado por crises de um determinado setor ou de um contratante específico;

6) Tarefas agregadas que raramente são remuneradas: muitas funções que fazem parte do trabalho e ocupam bastante tempo não costumam ser pagas, como tirar músicas, escrever partituras, ensaiar, passar o som, preparar uma aula e dedicar-se a meios de divulgação;

7) Trabalhar em horários não convencionais: quase todos os eventos acontecem durante a noite/madrugada, nos fins de semana, feriados e datas comemorativas. Assim, os músicos acabam trabalhando em dias/horários não convencionais (fora do horário comercial), para não atrapalhar os períodos mais comuns de trabalho dos convidados/clientes. Da mesma forma, os horários mais procurados para fazer aula de Música são durante a semana à noite e aos sábados, que correspondem aos períodos livres da maioria das pessoas;

8) Muitas vezes precisar abdicar da vida social: por atuar em horários "alternativos" (vide item anterior), o músico está trabalhando nos períodos comumente reservados para a diversão das outras pessoas, comprometendo sua disponibilidade de convívio social com parceiros, familiares e amigos;

9) Lidar com ciúme de parceiros que não entendem/aceitam a profissão: relacionar-se com alguém que não trabalha na área requer um tremendo esforço de ambas as partes, para lidar com os poucos horários livres em comum e os assédios resultantes da super-exposição e do fascínio característico das profissões artísticas;

10) Investir em equipamento caro: tocar/estudar num instrumento mais barato e de menor qualidade interfere diretamente no desempenho de seu treinamento e no resultado/qualidade de seu trabalho (veja, também: Piano acústico, digital ou teclado?);

11) Ter um carro para transportar instrumentos caros e pesados: além da grande maioria dos eventos terminarem de madrugada (quando não há mais transporte coletivo), também é bastante complicado, arriscado e muitas vezes impossível de se transportar um instrumento grande, pesado e frágil sem ser num carro;

12) Suportar grande desgaste físico e emocional: tocar em festas/eventos é bem desgastaste para o músico. Como se não bastasse as horas seguidas em pé, sem poder beber água ou ir ao banheiro, ele ainda precisa, por meio de sua performance, contagiar aquela pessoa indiferente, sentada/parada em frente ao palco, a participar da festa. Além do desgaste físico de pernas, braços, costas, cordas vocais (que podem ser atenuados com aquecimento, treinamento e conhecimento técnico/fisiológico dos músculos envolvidos) e do ouvido (dependendo do tipo de sonorização do grupo), há o desgaste cerebral/emocional, que é primordialmente utilizado quando se toca. Se o músico também exerce outra função (vide item 5) em horário comercial, ainda corre o risco de, frequentemente, só ter poucas horas de sono entre um trabalho e outro;

13) Em algumas ocasiões ter que trabalhar sem condições físicas ou emocionais ideais: por exercer (dependendo do caso) uma função de extrema responsabilidade dentro de um grupo, o músico não pode, em cima da hora, decidir faltar em um evento, pois quase nunca é possível encontrar/ensaiar um substituto à altura, que não comprometa a qualidade do trabalho e acabe prejudicando todo o grupo, além de pegar muito mal com o contratante, que vai pensar duas vezes antes de contratá-lo novamente. A palavra do músico (confiabilidade) é sua principal reputação: muitas vezes prefere-se contratar um menos impressionante mas que faça seu papel e honre seu compromisso do que outro virtuose que não cumpra compromissos assumidos. E é aí que está a chave da questão: um músico "mediano" que esteja bem ensaiado, pode render igual ou até melhor que um outro excepcional que não se dedica como poderia, tirando as músicas de qualquer jeito e faltando em ensaios e apresentações. Assim, é muito comum ser obrigado a recusar serviços melhores (mais rentáveis e/ou importantes) por outro firmado anteriormente;

14) Lidar com a arrogância de colegas de trabalho: sendo uma aérea que lida com fama e glamour, não é incomum trabalhar com pessoas que valorizam em demasia a sua importância, seja pelo seu cargo e/ou renome conquistado. Apesar da maior incidência com cantores e maestros, ninguém da área está imune aos "caprichos" do ego: músicos, professores, dançarinos, produtores, cerimonialistas, assessores, técnicos e até roadies (carregadores/montadores) quando trabalham para alguém famoso;

15) Ser avaliado pela fama e não pela qualidade profissional: frequentemente o músico é valorizado de acordo com sua própria fama, da música que está tocando ou da pessoa que está acompanhando. A maioria do público ainda tem a ilusão romantizada de que todo talento é reconhecido pelo mercado, ignorando/desconhecendo a influência predominante da indústria cultural e medindo a qualidade artística pela sua repercussão na mídia. Essa falta de conhecimento acaba, também, relativizando a percepção de uma performance, levando as pessoas a avaliarem um músico de acordo com seu gosto pessoal;

16) Ser responsabilizado pelo insucesso de alunos que não estudam: sina comum à toda classe professoral, é potencializada no ensino musical pela característica pessoal/individual das aulas de instrumento. Por se tratar, primordialmente, de um treinamento prático, o professor de música pouco pode fazer pelo aluno que não estuda e não segue suas orientações. Só que, nem sempre, o aluno e/ou seus responsáveis tem essa compreensão do processo, responsabilizando exclusivamente o professor pelo cumprimento de expectativas muito altas e irreais que eles mesmos criaram;

17) Levar má reputação: é um ramo que ainda sofre muito preconceito e pré-julgamento (eternizados na cultura popular pela fábula 'A Cigarra e a Formiga', desde o século V a.C.), sendo associado a práticas de boemia e "vida fácil" por suas características festivas e noturnas. Assim, é muito comum, infelizmente, ver pessoas (direta ou indiretamente) se referindo ao músico como alguém que não trabalha, que tem a vida desregrada (envolvido com farra/vadiagem) e sem preocupações com o futuro, que é alcoólatra, viciado em drogas, infiel, prostituto, irresponsável e delinquente. A vida exposta dos artistas (esmiuçada pela mídia para satisfazer a curiosidade dos fãs) e a falta de preparo emocional de muitos deles para lidar com a fama e o enriquecimento rápido, acaba alimentando ainda mais essa avaliação popular.

Ufa! Agora vamos às vantagens:

1) Diversos ramos possíveis dentro da área: o mercado musical oferece muitas aéreas diferentes de atuação. E mesmo dentro de cada área, há diversas ramificações e especializações;

2) Trabalhar naquilo que gosta, que tem como vocação: uma pessoa que tem aptidão ou fascínio pela vida artística sente-se privilegiada e gratificada quando consegue fazer de sua arte sua profissão;

3) Exercer uma profissão prazerosa que lida com a felicidade das pessoas: além da comprovação científica de estimular a atividade cerebral, causando prazer em quem a pratica, a Música se faz presente principalmente em shows, festas, cerimônias e comemorações, momentos onde os ouvintes estão com a sensibilidade aflorada (alegres e receptivos);

4) Liberdade para selecionar serviços e determinar o seu horário: como toda atividade autônoma, o músico tem maior liberdade de selecionar seus trabalhos, negociar seu preço e o período do dia que se dedicará à função;

5) Trabalhar em lugares variados: mesmo quando fica por muito tempo tocando um mesmo repertório, o músico raramente se entedia no trabalho, pois atua em lugares diversos, para públicos diferentes, tendo a possibilidade de conhecer localidades distantes, caras ou de acesso restrito que, normalmente, não teria condições de frequentar;

6) Encantar as pessoas com seu trabalho: pela característica sensorial, a Música é uma das poucas atividades que pode ser apreciada por praticamente qualquer pessoa, mesmo a completamente leiga, causando fascinação pela maneira imaterial e invisível que sensibiliza os ouvintes;

7) Conseguir alguns trabalhos que não necessitem de graduação: apesar de requerer muito estudo e especializações tanto quanto as profissões de formação mais demorada e exigente, muitos ramos da área musical podem ser exercidos por amadores, autodidatas e/ou estudantes ainda em processo de formação;

8) Ter a possibilidade de desfrutar um sucesso repentino e aumentar o rendimento rapidamente: mesmo dependendo de uma boa dose de sorte, é possível estar envolvido num trabalho que consiga fazer muito sucesso de uma hora pra outra, aumentando exponencialmente seu ganho e repercussão profissional (até sem ter estudado muito);

9) Receber feedback instantâneo: como a performance musical é feita em tempo real, o músico recebe a resposta do seu trabalho no mesmo instante, tendo uma ideia de sua aceitação pela reação do público. Em algumas situações, dependendo da extensão e variedade do seu repertório, pode até adaptá-lo de acordo com o perfil de ouvinte que encontrar e da resposta que estiver obtendo durante a apresentação;

10) Entreter, conectar-se e trocar energia com pessoas que apreciam seu trabalho: mesmo em bares, festas e eventos, onde o público não está indo propriamente assistir a apresentação musical, um repertório bem colocado e/ou uma boa execução/performance contagiará os ouvintes a participarem e interagirem, pois, com poucas exceções, já estarão pré-dispostos pelo ambiente festivo (vide item 3 desta lista de vantagens). Num show ou apresentação específica, conseguir essa interação é ainda mais natural, já que os ouvintes foram até lá especificamente para assisti-lo (o músico cover tem uma experiência bem próxima quando toca uma música que esteja fazendo muito sucesso ou quando sua performance sensibiliza o fã do artista que está sendo reproduzido);

11) Gostar de trabalhar com Música;

12) Gostar de trabalhar com Música;

13) Gostar de trabalhar com Música;

14) Gostar de trabalhar com Música;

15) Gostar de trabalhar com Música;

16) Gostar de trabalhar com Música;

17) Gostar de trabalhar com Música

Os últimos sete itens são uma alusão ao amor que move a grande maioria de seus profissionais, tornando suportável as desvantagens e equilibrando a balança de satisfação/realização. 

Conheci dois ex-músicos que abandonaram a profissão para melhorar seu nível econômico trabalhando em outra área. Ambos conseguiram esse objetivo. O primeiro disse estar arrependido pois, agora que ganhar dinheiro não era mais um problema para ele, percebeu que era mais feliz quando era músico e com renda menor. Já o segundo disse estar convicto de ter feito a escolha certa, pois sabia que dificilmente conseguiria comprar a residência no bairro de classe média-alta onde morava e o carro de luxo que possuía se tivesse seguido na carreira musical. Qual opinião é a mais sensata? As duas, já que as avaliações refletem o que é mais importante para cada um deles! O que faz uma pessoa feliz pode não fazer uma outra. Mas e VOCÊ? Com qual prioridade se identifica mais? Pense nisso antes de tomar sua decisão!

                          

domingo, 3 de janeiro de 2016

Tocar e Ensinar: duas áreas distintas

Geralmente, considera-se que a habilidade em FAZER alguma coisa é a mesma que ENSINAR a fazê-la. Assim, as pessoas acreditam que o melhor pianista do mundo, por exemplo, seja o melhor professor de piano do mundo também! Mas, na realidade, isso raramente acontece, porque, mesmo que relacionadas, são atividades diferentes, requerendo treinamento e habilidades específicos. 

Prodígios e artistas/atletas excepcionais conseguem aprender várias etapas intuitivamente, imitando um profissional pela simples observação: sem precisar de maiores explicações, sua intuição faz com que eles entendam mais rapidamente o que precisa ser feito. Quem não tem essa assimilação diferenciada (a grande maioria das pessoas!) precisa de alguém que lhe explique, detalhadamente, cada passo do processo para conseguir reproduzí-lo, ainda sim, depois de muita prática. 

É indiscutível que qualquer professor precise ter total conhecimento da matéria que se propõe a ensinar, mas conseguirá melhores resultados aquele que seja melhor em EXPLICAR como fazer do que em EXECUTAR a atividade ensinada. O profissional que, por causa da assimilação intuitiva de alguma etapa, "pulou" uma explicação mais detalhada, não saberá mostrar o caminho passo-a-passo ao aluno que tem dificuldade e/ou um ritmo de aprendizado mais lento. Quem não consegue repetir uma demonstração inteira apenas observando, precisa dividir o procedimento em várias etapas para ir assimilando-o lentamente e lembrando, a cada momento, do próximo passo a ser dado, até alcançar o domínio daquele conteúdo.

Na área musical, é muito comum autodidatas (que aprenderam a tocar de ouvido) darem aula, mas só conseguirão passar plenamente o que sabem aos alunos que tiverem a mesma capacidade de assimilação que eles próprios tiveram durante seu aprendizado (veja, também, neste blog: É preciso ter um talento especial para aprender a tocar?). Será um professor completo aquele que estiver preparado para lidar com qualquer perfil de aluno (com sua dificuldade particular) que possa encontrar. Para se atingir a excelência na execução de uma atividade, seja ela qual for, não é necessário desenvolver todo esse preparo didático, a não ser superar apenas as problemáticas pessoais. 

A pergunta que se pode fazer é: "se alguém tem o conhecimento necessário para ensinar qualquer pessoa, porque não o utiliza para si mesmo?". As razões podem ser diversas: falta de tempo para se dedicar (é muito complicado conseguir se especializar em mais de um ramo profissional), identificação/realização pessoal (lecionar proporciona maior satisfação do que exercer a atividade em si), vocação natural (a pessoa tem mais facilidade em transmitir o que sabe do que colocar em prática o seu conhecimento) e o mercado de trabalho (as melhores/únicas oportunidades profissionais que surgiram foram na área didática). Vários músicos se "equilibram" entre os dois ramos, tocando e lecionando para sobreviver numa realidade cultural brasileira onde é muito difícil ganhar o suficiente para se dedicar a apenas um deles. 


quarta-feira, 28 de outubro de 2015

6 erros comuns que atrapalham o rendimento do estudo

Já teve aquela sensação de que, por mais que estude, a música (ou parte dela) nunca fica pronta? Caso você REALMENTE estude bastante, talvez esteja fazendo alguma coisa errada no processo de preparação. Confira os erros mais comuns:

1) POSICIONAMENTO: como em qualquer atividade física, uma postura incorreta pode, além de causar dores na musculatura (desde um incômodo leve até uma tendinite aguda!), atrapalhar algum aspecto da performance: sonoridade, velocidade e/ou precisão. Por isso a importância de, desde o começo, acostumar-se a tocar na posição correta de altura, costas, ombros, braços, pulsos e dedos. Na fase inicial do curso, muitos alunos (e professores!!!) negligenciam a postura ao piano para ter uma coisa a menos com que se preocupar, facilitando o estudo. Porém, esse começo menos exigente acessível iludirá o aluno a respeito de seu real desenvolvimento: ele se acostumará a tocar com a postura incorreta e esta o impedirá de avançar aos níveis mais exigentes tecnicamente;

2) Você está usando um DEDILHADO inadequado: decidir qual dedo utilizar no momento em que estiver tocando só funciona em peças/trechos fáceis ou se você estiver tocando muito devagar. Além da importância de se usar sempre o mesmo dedilhado, é preciso levar em consideração a velocidade na qual o trecho deverá ser tocado quando for defini-lo, pois uma seqüência que funcione tocando lentamente, talvez não funcione quando executada mais rápido (veja, no blog: 7 motivos para obedecer o dedilhado marcado);

3) O ANDAMENTO está muito rápido: um erro muito comum é querer tocar já na velocidade correta desde a fase inicial de estudo. Pesquisas recentes mostram que o meio mais rápido de assimilação é tocar o mais certo possível desde o começo do estudo. E quanto mais lento você toca, mais tempo de raciocínio você dá ao seu cérebro, diminuindo a chance de cometer algum erro. Na fase inicial de preparação, primeiro devemos decifrar e programar a cabeça para processar todas as informações necessárias para a execução correta. Somente depois que essa primeira etapa estiver resolvida é que passamos a nos preocupar com o andamento, utilizando um metrônomo para conferir toda a parte rítmica e atingir a velocidade correta de execução (veja, no blog: 8 passos de como estudar com metrônomo);

4) O NÍVEL DE DIFICULDADE é mais alto do que está acostumado: situação muito comum no curso de Piano Erudito, onde trechos difíceis necessitam de semanas (ou até meses!) de estudo para ficarem prontos. Se você está estudando corretamente (obedecendo todas as etapas e procedimentos necessários) e não percebe uma melhora significativa, mesmo depois de muito estudo, na realidade você precisa apenas continuar estudando, ou seja, estudar mais do que está costumado. Na impossibilidade de aumentar seu período de estudo, terá que se conformar com um tempo maior para peças com níveis mais altos de dificuldade ficarem prontas (veja, no blog: 7 dicas para seu estudo render mais);

5) Você está estudando num INSTRUMENTO INADEQUADO: como se trata de um objeto caro, nem sempre o aluno tem, à sua disposição, um instrumento de boa qualidade. Apesar de existirem diversas possibilidades de modelos (inclusive instrumentos usados ou semi-novos, com preços mais baixos), nem todos oferecem condições ideais de estudo. Assim, passagens que saem perfeitamente em casa, podem não sair quando executadas em outro instrumento (situação, esta, que ocorrerá, fatalmente, na aula ou num recital). O mesmo acontece com instrumentos desafinados, quebrados e/ou desregulados. Consulte, neste blog, o artigo Piano acústico, digital ou teclado? para saber qual o modelo indicado em cada situação;

6) ERROS DESPERCEBIDOS: por ter mais experiência/conhecimento e, na condição de ouvinte, poder se concentrar apenas na execução do aluno, o professor tem muito mais condições de avaliar uma performance. Ao estudar sozinho, o aluno precisa ter atenção redobrada na fase de preparação: se algum erro passar despercebido, terá a falsa impressão de que está tocando corretamente. Na maioria das vezes, quando deixamos de nos preocupar com algum aspecto da peça (o dedilhado marcado, o uso correto do pedal, a precisão rítmica, a regularidade da pulsação, etc.), acabamos, sem perceber, tornando a sua execução mais fácil, contribuindo para uma autocrítica equivocada. Experimente gravar sua performance para poder se observar sem "envolvimento", passando, assim, para o papel de ouvinte e melhorando as suas condições de avaliação.

Vale, ainda, ressaltar que TOCAR não é o mesmo que ESTUDAR: ficar bastante tempo tocando no instrumento não significa, necessariamente, que você esteja estudando realmente. Estudar é fazer os métodos/exercícios propostos pelo professor, da maneira que foi orientado em aula, repetindo o processo de preparação até que atinjam a performance desejada. Ficar simplesmente repetindo a música várias vezes, sem fazer os procedimentos para corrigir os erros, só fará com que você se acostume com a execução errada!

sábado, 26 de setembro de 2015

12 passos para criar o hábito de estudo numa criança

Atividades complexas, que exigem muito treinamento, nem sempre tem um começo agradável e estimulante. Leva-se um bom tempo estudando (com muita paciência e dedicação) para atingir um estágio satisfatório que comece a corresponder às expectativas dos alunos e/ou seus pais.

Acostumadas com prazeres momentâneos, crianças geralmente não gostam de praticar exercícios cujos benefícios só vão aparecer mais tarde. Para que, no entanto, seu desenvolvimento musical aconteça, é preciso 'envolvê-la' no processo, criando uma rotina de estudo. 

E como, praticamente, qualquer atividade, estudar também é um hábito que se adquire. Veja 12 dicas que ajudarão nessa tarefa: 

1) Crie o AMBIENTE necessário: deixe o instrumento sempre disponível e de fácil acesso, num lugar silencioso e com o menor número de distrações possíveis (telefone, TV, computador, videogame). Instrumentos eletrônicos (teclados e pianos digitais) oferecem a opção de tocá-los com fone de ouvido, muito útil em situações onde é impossível colocá-los num cômodo privativo, para o estudante não incomodar as outras pessoas da casa e não ser incomodado também;

2) Programe PERÍODOS CURTOS de estudo: crianças tem dificuldade de manter a concentração, numa mesma atividade, por mais de 15 minutos. Inicialmente, estabeleça um período de, no máximo, 10 minutos, todos os dias. À medida que o hábito esteja formado e houver possibilidade, aumente para dois ou mais períodos não consecutivos por dia. Só aumente o tempo de cada período se, pelo menos, um deles esteja sendo cumprido todos os dias (veja no blog: 6 passos para criar uma rotina de estudo);

3) Faça a PROGRAMAÇÃO do horário de estudo JUNTAMENTE com a criança: leve em consideração o ponto de vista dela para conseguir sua colaboração mais facilmente. Procure horários em que ela esteja descansada/disposta e que seu programa de TV preferido, por exemplo, não esteja passando;

4) Explique que TOCAR é diferente de ESTUDAR: ficar se divertindo no instrumento (tocando músicas conhecidas, tirando trechos "de ouvido", explorando livremente sua sonoridade e seus recursos) não é exatamente ESTUDAR. Apesar desse lazer ser fundamental para dar ânimo e desenvolver habilidades cognitivas importantes, o estudo musical não deve se resumir a isso. O desenvolvimento só será adequado se os exercícios propostos em aula forem praticados em casa. Programe apenas os períodos de ESTUDO (de acordo com o item nº 3 dessa lista). Os períodos de LAZER no instrumento devem ser livres e não entram nesse cálculo;

5) Ajude-a a criar um COMPROMISSO: obviamente que, para mudar sua rotina, a criança terá que deixar de fazer alguma coisa para estudar. Deixe claro que ela não estará abandonando aquilo que gosta, mas apenas diminuindo sua atividade, por 10 minutos, para conseguir fazer algo que poucas pessoas fazem (tocar um instrumento musical) e que todos gostariam de fazer;

6) Estude JUNTO: nas primeiras semanas de aula, é comum a criança ficar perdida no momento de estudar sozinha, em casa. Na maioria das vezes, é porque esquece as instruções/recomendações do professor. Nesse caso, o ideal seria um dos pais acompanhar algumas aulas (com o consentimento do professor) ou pedir uma explicação básica para poder orientar o estudo em casa, até que a criança seja capaz de "se virar" sozinha;

7) ELOGIE e incentive qualquer progresso: mesmo nas pequenas conquistas, um elogio sincero motiva a criança em prosseguir nos estudos e almejar desafios mais altos. É preciso entender que ela está praticando uma atividade difícil, que requer tempo e dedicação constante, com resultados demorados. Elogiando seus avanços, você fará com que ela também compreenda esse processo, o que é crucial para mantê-la motivada e ensiná-la a controlar a ansiedade;

8) Crie DESAFIOS: além dos elogios, estimule a criança oferecendo uma recompensa se ela cumprir um prazo determinado para terminar alguma lição. Importante que o prazo seja justo e realista, e que o prêmio seja, somente, representativo e sem valor material significativo, para não desvirtuar o aluno do objetivo de criar um ENGAJAMENTO e transformá-lo num mercenário motivado por interesse;

9) NÃO CONDICIONE o estudo a prêmios ou punições: estímulos são interessantes e importantes, mas não a ponto de serem a única razão para se fazer alguma coisa. Se o horário de estudo já foi definido (por ambas as partes) e a criança não o estiver cumprindo, converse com ela para descobrir as razões: reforce a necessidade de empenho para se conseguir algum resultado e que, sem ele, o dinheiro investido está sendo jogado fora. E punições não são eficazes para motivar alguém a se dedicar mais numa tarefa que, teoricamente, foi escolhida por vontade própria;

10) DIMINUA as atividades: encher a agenda de seu filho, com diversas atividades diferentes, farão com que ele perca o foco e não se dedique, satisfatoriamente, em nenhuma delas. É preferível fazer poucos cursos bem feitos do que vários de qualquer jeito. E o mais importante: crianças precisam de tempo para BRINCAR! Prodígios que, desde cedo, tem uma vida cheia de compromissos, quase sempre tornam-se adultos infelizes por não terem aproveitado o período da infância em sua plenitude;

11) NÃO COBRE resultados imediatos: cada pessoa, de qualquer idade, tem uma velocidade de assimilação diferente da outra. Os motivos podem ser vários: aptidões/dificuldades específicas, maior/menor disponibilidade de tempo, nível de dedicação/concentração, local/instrumento adequado, etc. Na fase inicial de estudo, pressionar uma criança para estudar raramente surtirá um efeito positivo. Na maioria das vezes, o resultado é inverso: muitos ex-alunos de piano, mesmo tendo completado o curso, tiveram uma experiência tão traumática, que pegaram aversão ao instrumento! (veja, também, no blog: Em quanto tempo estarei tocando?);

12) MUDE de instrumento: não adianta insistir que a criança estude piano quando ela quer, na verdade, tocar bateria! Mas, às vezes, nem ela mesma está certa sobre qual instrumento quer estudar. Isso é normal, tanto pela idade, como pelo fato de cada instrumento musical ter um fascínio diferente e particular. Se houver uma indecisão, experimente colocá-la para fazer algumas aulas de cada instrumento desejado: o contato direto facilitará sua escolha. 

Um ponto muito importante, a também ser considerado, é de JAMAIS OBRIGAR a criança a fazer qualquer um dos cursos: mesmo sendo, comprovadamente, muito importante na formação de qualquer pessoa, só quem estuda um instrumento musical tem a noção exata de sua dificuldade. Os que nunca tiveram um contato mais próximo com a prática musical, costumam alimentar a fantasia de que é preciso apenas de aptidão (talento natural) para exercê-la. Seu aprendizado se assemelha muito à prática esportiva: o talento ajuda no processo, mas não é essencial e nem elimina a necessidade de treinamento (veja, também, no blog: O que é TALENTO?).

Ao se deparar com a dificuldade e a demora dos resultados, muitos iniciantes querem desistir, pois não estão dispostos aos sacrifícios necessários. Muita vezes, essa característica é comportamental: veja se é um fato isolado ou se a criança abandona, constantemente, qualquer atividade ao menor sinal de complexidade. Converse com ela e explique que a maioria das coisas somente são possíveis com esforço/sacrifício. Se, mesmo assim, ela não quiser estudar música, não insista: a dedicação acontece naturalmente quando a vontade é ESPONTÂNEA (engajamento) e não através da FORÇA (repressão). Talvez mais tarde, com a maturidade e a disciplina mais desenvolvidas, ela volte a se interessar.



segunda-feira, 17 de agosto de 2015

7 motivos para obedecer o dedilhado marcado

Várias partituras (principalmente métodos e peças eruditas) trazem uma indicação de dedilhado: números colocados na partitura, acima das notas, que indicam o dedo a ser usado para tocá-las. Para o pianista, os dedos são numerados à partir do polegar, em ambas as mãos:



Apesar de não ser obrigatório, na maioria dos casos, veja 7 razões para seguir o dedilhado marcado:

1) Métodos e exercícios: como são elaborados com objetivos didáticos, abordando uma ou mais problemáticas específicas, os métodos só surtirão efeito se o dedilhado determinado for obedecido à risca (utilizando um diferente, você pode deixar a execução mais fácil e, assim, anular a função dos exercícios);

2) Tocar com partitura: o dedilhado é elaborado de maneira que o pianista movimente suas mãos o menos possível, posicionando cada dedo numa tecla adjacente à outra. Esse posicionamento permite tocar sem precisar olhar para as mãos o tempo todo, necessário tanto numa leitura à primeira vista (tocar uma partitura desconhecida), como na execução de uma peça que não esteja decorada;

3) Evitar "malabarismos": usando um dedilhado inadequado, até passagens simples podem se tornar difíceis. Aquele que, por não definir um dedilhado, usa o primeiro dedo que "vier na cabeça", pode criar "armadilhas" para si mesmo, executando alguma manobra anti-pianística que impossibilite o funcionamento preciso/adequado dos dedos, prejudicando a performance;

4) Assimilação mais rápida: ao utilizar sempre a mesma sequência de dedos, você facilita o seu processo de aprendizado. Se a escolha for aleatória (sem planejamento), seu cérebro sempre perderá algum tempo para, a cada momento, decidir qual dedo será acionado;

5) Decorar: ao facilitar a assimilação, automaticamente você agiliza, também, sua memorização. Nossa memória funciona por associação, fixando padrões por repetição. Usar dedos diferentes a cada vez que repetir uma passagem, dificulta essa fixação;

6) Trechos difíceis: há passagens tão complicadas que são impossíveis de serem executadas se não for usada uma sequência específica de dedos. O dedilhado é a indicação de alguém (compositor, revisor, editor, etc.) que conseguiu tocar aquele trecho usando a sequência marcada;

7) Tocar no andamento correto: praticamente qualquer passagem, por mais difícil que seja, é possível de ser executada quando feita muito devagar. Quando um dedilhado é definido, leva-se em consideração a velocidade na qual o trecho deverá ser tocado. Assim, uma sequência que funcione tocando devagar, pode não funcionar se a execução for mais rápida. 

Caso esteja, numa peça, seguindo o dedilhado marcado, estudando corretamente e, mesmo assim, não conseguindo tocar alguma passagem, talvez aquele dedilhado não seja adequado para você. Como em todo aspecto biológico, pessoas tem mãos de tamanhos, formas e elasticidade diferentes, ou seja, nem todo dedilhado é adequado para qualquer tipo de mão. Encare a indicação de dedilhado como uma boa SUGESTÃO: o seu professor (e mesmo você, quando adquirir maior experiência) saberá discernir se existe uma outra opção que seja mais adequada às características de sua mão.



sábado, 28 de fevereiro de 2015

O que é TALENTO?

Pouco tempo atrás, passando pelos canais da TV, parei numa entrevista com o cantor brasileiro Agnaldo Rayol, justamente na parte em que o entrevistador perguntou a ele se já havia feito alguma aula de canto, ao que respondeu, convicto e orgulhoso: "Não! É talento mesmo!".

Ora! Então todos os músicos eruditos, que passam por anos de estudo para desenvolvimento técnico e interpretativo, não são talentosos?!

É desanimador ver, por total falta de conhecimento, o desserviço que os autodidatas do ramo fazem ao superestimar sua aptidão. Além de alimentar a mítica popular irreal de ícones artísticos/esportivos supra-humanos (que desencoraja várias pessoas que gostariam de aprender), acabam criando, também, uma desculpa para justificar sua falta de proficiência técnica (falta de especialização e conhecimento científico), pois acreditam que já "nasceram sabendo". O que eles não percebem, é que existem muitas formas de desenvolver uma habilidade, mesmo quando esta não se manifesta precocemente e sem orientação prévia (aquela considerada "inata"). 

Mesmo demonstrando um "dom" (facilidade para exercer alguma atividade sem um auxílio direto), o autodidata raramente se dá conta que ele não nasceu pronto, mas foi desenvolvendo sua capacidade observando, ouvindo, imitando e praticando inúmeras vezes (ou seja, TREINANDO sua aptidão). Na maioria dos casos, esse é um percurso mais demorado do que se estivesse sob a orientação de um profissional, que conhece os meios mais eficientes de aprendizado e evitaria que ele perdesse tempo tentando encontrar, sozinho, soluções para as dificuldades e adquirisse algum vício equivocado de postura que atrapalhe seu desenvolvimento. 

TALENTO, portanto, não é apenas a demonstração impressionante de uma habilidade desenvolvida pela simples vivência e observação (natural), mas, também, de uma habilidade ADQUIRIDA através de treinamento profissional (aulas). Assim, pessoa talentosa é aquela que se destaca pela MANEIRA que faz alguma coisa e não em como APRENDEU a fazê-la!

Como a prática musical está muito próxima da prática esportiva, vou citar dois exemplos de ex-jogadores de futebol brasileiros, famosos por seu talento, que ilustram bem a questão:

• PELÉ: considerado como o maior e mais completo futebolista de todos os tempos. Participou de quatro Copas do Mundo (das quais foi campeão três vezes - recorde até hoje), é o maior artilheiro de todos os tempos, com 1159 gols e, dentre outras diversas premiações, recebeu o título de "Atleta do Século". Uma das partes que mais me chamou a atenção no documentário "Pelé Eterno" (2004/Brasil), foi um depoimento dele próprio, dizendo que era muito disciplinado e que ficava praticando, sozinho, cobranças de falta e de pênalti (com o pé direito e o esquerdo) após o término dos treinos, enquanto os demais jogadores corriam para tomar banho no vestiário e ir embora.

• ROMÁRIO: conhecido pela boemia e aversão aos treinamentos, participou de apenas uma Copa do Mundo e foi escolhido como o melhor jogador do ano também apenas uma vez, apesar dos 1001 gols na carreira (é o segundo maior artilheiro da história) e os vários campeonatos que conquistou pelos times que integrou. Números modestos em comparação a outros jogadores importantes, mesmo estes não sendo considerados tão habilidosos quanto ele. 

Uma pessoa talentosa que não estuda, não supera suas limitações. Uma pessoa com dificuldades que estuda, supera todas elas através do esforço. Uma pessoa que consegue unir seu talento ao estudo, torna-se um fora de série!