domingo, 3 de janeiro de 2016

Tocar e Ensinar: duas áreas distintas

Geralmente, considera-se que a habilidade em FAZER alguma coisa é a mesma que ENSINAR a fazê-la. Assim, as pessoas acreditam que o melhor pianista do mundo, por exemplo, seja o melhor professor de piano do mundo também! Mas, na realidade, isso raramente acontece, porque, mesmo que relacionadas, são atividades diferentes, requerendo treinamento e habilidades específicos. 

Prodígios e artistas/atletas excepcionais conseguem aprender várias etapas intuitivamente, imitando um profissional pela simples observação: sem precisar de maiores explicações, sua intuição faz com que eles entendam mais rapidamente o que precisa ser feito. Quem não tem essa assimilação diferenciada (a grande maioria das pessoas!) precisa de alguém que lhe explique, detalhadamente, cada passo do processo para conseguir reproduzí-lo, ainda sim, depois de muita prática. 

É indiscutível que qualquer professor precise ter total conhecimento da matéria que se propõe a ensinar, mas conseguirá melhores resultados aquele que seja melhor em EXPLICAR como fazer do que em EXECUTAR a atividade ensinada. O profissional que, por causa da assimilação intuitiva de alguma etapa, "pulou" uma explicação mais detalhada, não saberá mostrar o caminho passo-a-passo ao aluno que tem dificuldade e/ou um ritmo de aprendizado mais lento. Quem não consegue repetir uma demonstração inteira apenas observando, precisa dividir o procedimento em várias etapas para ir assimilando-o lentamente e lembrando, a cada momento, do próximo passo a ser dado, até alcançar o domínio daquele conteúdo.

Na área musical, é muito comum autodidatas (que aprenderam a tocar de ouvido) darem aula, mas só conseguirão passar plenamente o que sabem aos alunos que tiverem a mesma capacidade de assimilação que eles próprios tiveram durante seu aprendizado (veja, também, neste blog: É preciso ter um talento especial para aprender a tocar?). Será um professor completo aquele que estiver preparado para lidar com qualquer perfil de aluno (com sua dificuldade particular) que possa encontrar. Para se atingir a excelência na execução de uma atividade, seja ela qual for, não é necessário desenvolver todo esse preparo didático, a não ser superar apenas as problemáticas pessoais. 

A pergunta que se pode fazer é: "se alguém tem o conhecimento necessário para ensinar qualquer pessoa, porque não o utiliza para si mesmo?". As razões podem ser diversas: falta de tempo para se dedicar (é muito complicado conseguir se especializar em mais de um ramo profissional), identificação/realização pessoal (lecionar proporciona maior satisfação do que exercer a atividade em si), vocação natural (a pessoa tem mais facilidade em transmitir o que sabe do que colocar em prática o seu conhecimento) e o mercado de trabalho (as melhores/únicas oportunidades profissionais que surgiram foram na área didática). Vários músicos se "equilibram" entre os dois ramos, tocando e lecionando para sobreviver numa realidade cultural brasileira onde é muito difícil ganhar o suficiente para se dedicar a apenas um deles.