terça-feira, 24 de junho de 2014

5 motivos porque tocamos melhor em casa

A segunda frase que mais ouço em sala de aula é: "Em casa estava melhor!", com algumas poucas variações (infelizmente, a primeira ainda é: "Não estudei essa semana!"). Frequentemente, o desempenho em sala de aula não é o mesmo conseguido em casa. Mas porque isso acontece? O fator emocional é preponderante nessa situação, potencializado pelas seguintes razões:

1) Não tocar em seu próprio instrumento. Essa é a maior desvantagem do pianista, que quase nunca se apresenta no instrumento no qual estudou. Cabe a ele se adaptar ao piano disponível no local onde irá tocar: há instrumentos com a mecânica mais leve/pesada, com maior/menor capacidade de emissão (volume), ou com sonoridade (timbre) mais estridente/abafada, por exemplo. É como dirigir um carro diferente do seu: os princípios são os mesmos, mas há diferenças que você precisa se adequar;

2) Ambientação. Por mais que esteja habituado com a sala onde tem aula, o aluno sempre fica mais à vontade em sua própria casa, no ambiente que ele conhece e passa todos os dias;

3) Ninguém está olhando. SEMPRE ficaremos mais tranquilos tocando sozinhos do que com alguém observando. É inevitável considerar que estamos sendo avaliados, por mais leiga que seja a pessoa para a qual estejamos tocando. E quanto mais especialista ela for, maior a responsabilidade que sentimos pela nossa performance;

4) Saber que podemos recomeçar caso alguma coisa dê errado. Tocar em casa é como jogar um videogame: podemos recomeçar quantas vezes quisermos, sem que ninguém saiba. Isso dá uma enorme segurança e tranqüilidade psicológica ao executante. Assim, jamais sentiremos o peso e a responsabilidade de uma performance "pra valer" (sem chance de correção) quando estamos estudando em casa;

5) Depois de repetir várias vezes a música, fica mais fácil conseguir a execução ideal. Durante a fase de estudo, é impensável considerar que a peça esteja pronta enquanto não conseguirmos executá-la, perfeitamente, na primeira tentativa (situação que acontecerá na aula ou numa apresentação). Quando a peça ainda não estiver pronta e não houver mais oportunidade de estudar antes de mostrá-la, é recomendado, então, tocar um pouco mais lento para diminuir a chance de erros.

Felizmente, mesmo com esses empecilhos, vários fatos (já acontecidos comigo e com diversos colegas) comprovam que, quando o repertório foi bem estudado, a técnica e a memória muscular conseguem se sobrepor não só a eles, mas até a mãos suando e pernas tremendo!

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Qual a diferença do curso de Teclado e de Piano Popular?

A maioria das pessoas não sabe, ao certo, a diferença entre os cursos de Teclado e de Piano Popular. Pensam que, para tocar teclado, precisam fazer o curso específico. Para entender a questão, é preciso, antes, saber a diferença entre os dois instrumentos.

O teclado, além de ser uma versão eletrônica do piano, também possui timbres diferentes (sons de outros instrumentos), ritmos para acompanhamento e diversos outros recursos e facilidades adicionais. 

O curso padrão de Teclado ensina a tocar utilizando o sistema de acompanhamento automático que os modelos arranjadores possuem: a mão direita toca a melodia (parte principal da música, na grande maioria das vezes feita por uma voz solo) e a mão esquerda toca acordes (três ou mais notas juntas) de acompanhamento. O teclado faz o resto sozinho: a bateria (ritmo), o contrabaixo e diversos outros instrumentos automaticamente, simulando uma banda completa. Com essa função ativada, fica bem mais fácil aprender qualquer música, porque diminui bastante o trabalho a ser feito, que, num piano, seria muito maior. O curso é, assim, um pouco enganoso: a maioria dos elementos sonoros não está sendo feita diretamente pelo executante. 

Cada instrumento musical tem uma função no arranjo (elaboração da parte de cada um). Se o teclado fizer todas essas funções, não haverá espaço para outros tocarem com ele. Ou seja, fazendo o curso de Teclado, o aluno somente aprenderá a tocar sozinho, sempre usando os auxílios eletrônicos. Assim, numa banda, mesmo usando um teclado, o tecladista toca da maneira ensinada no curso de Piano Popular. 

Tocar teclado, para quem JÁ toca piano popular, é apenas uma questão de se adaptar às teclas mais leves e aos recursos eletrônicos disponíveis quando necessário. Porém, para a execução de obras do repertório erudito (música clássica) o teclado não serve, devido à sua extensão menor (quantidade de teclas) e, principalmente, à sua mecânica leve que não corresponde ao controle necessário para a grande variação sonora e a proficiência técnica exigidas para tocar esse estilo de música (veja, também, neste blog: O que é Música Clássica/Erudita?).

Já para alguém que NUNCA tocou piano, é preciso, primeiramente, desenvolver toda a base técnica/motora para tanto. Por isso, o aluno deveria, antes de aprender a utilizar-se dos recursos eletrônicos, iniciar seu aprendizado no curso de Piano Popular (até mesmo se for para aplica-lo num teclado). Será mais difícil e levará mais tempo, mas ele aprenderá a TOCAR de verdade!